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quarta-feira, 30 de maio de 2012

A didática da dor de uma bolha



Uma bolha tem vida efêmera


...This times is different...


...a dor dá de graça o melhor aprendizado...

                                                              Há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia imagina e foi por isso que dissemos que havia uma bolha imobiliária no Brasil no começo de 2011 no texto Minha Casa, Minha Ruína. Recentemente falamos sobre a bolha veicular que explodiu agora em maio de 2012. Na verdade existem no mundo milhares de bolhas espalhadas e muitas estão explodindo aqui e acolá. A imprensa panos quentes não orienta como deveria de orientar, daí a importância dos blogs tratando destes assuntos. Existe até a bolha imobiliária francesa que promete muito. Não é questão de colocar fogo e sim iluminar a verdade com o Fogaréu, eis a questão. O mal e a mentira, como ferramenta deste, têm força, já a verdade passará esta fase mendigando compreensão. Muitos entram sabendo que a festa é curta e deve se retirar dela antes que seja tarde. Vide o caso San Zell que se retirou do ativo GFSA3 muitos meses antes que a coisa começasse a estourar. Nos fóruns vi incrédulo investidores dizendo que o ativo ia subir. Ora essa, se um tubarão caiu fora, o que será das sardinhas nesta corrente. Este ativo já esteve em mais de R$ 30,00, agora em 2012 você compra por menos de R$ 3,00.

                

                                                                Para o nosso aprendizado prestem atenção nas fases de uma bolha imobiliária, uma bolha que podemos chamar de clássica:


                                                               Primeira fase. Havemos-nos no tédio, as mãos coçam as algibeiras. Sentimos-nós como Sísifo empurrando uma pedra morro acima e, depois de todo o esforço, ela rola abaixo. Estamos dispostos até a caçar chifres na cabeça de cavalos. O nosso cerébro precisa de estímulos. Sentimos-nos preparados para uma aventura já que a vida muda muito pouco.


...didática divina da dor...

                                                               Segunda fase ou a fase da euforia. Logo alguém inventa uma corrente diferente. Nesta segunda euforias amealha mais euforias, a filosofia que predomina pode ser resumida em uma frase inglesa, This time is different ou desta vez é diferente, o crescimento é consistente. Esta idéia é regada por idéias como há um déficit muito grande de veículos, imóveis, relógios Rolex, sexo e etc. Não dizem que a população continua pobre, ignorante e que está se endividando de maneira periculosa. O governo joga a sua bolinha de enxofre incentivando a bolha e afirma que agora a ralé tem governantes. A arrecadação aumenta e o dinheiro vai em grande parte para a corrupção. O governo dá uns trocados destes impostos para a patuléia e um pacto de mediocridade é formado, ou seja, o governo finge que governa e o povo finge que é governado. Grandes caciques são forjados na demagogia do oba-oba. A oposição sai de cena ou fica enfraquecida, lamenta ter perdido o time político, muitas vezes por ter preparado a cama para o outro usá-la em um governo de reformas e impopular. A ralé não quer saber de nada, não pensa no futuro, é patriopança, ou seja, a sua pátria é a sua pança. Este tempo não existe para eles e a regra que vale para eles é que Deus tudo arranja. Correto, só que com muita dor, pois ele é pai e carrasco, se não for assim o homem não aprende. É a didática divina da dor. Devemos relembrar sempre que o homem na mitologia grega é filho de Epimeteu, o que pensa depois, literalmente falando. O desafio é pensar antes, é nisto que nós nos devemos concentrar dia e noite, sem embargo de na idade média ser um grande pecado tentar prever o futuro. O sonho é ser Prometeu, irmão de Epimeteu, o que pensa antes, o maior benfeitor da humanidade, que entregou a esta o fogo celestial ou a inteligência.

....patriopança...
                                                                  Terceira fase ou da negação da bolha. Quando a bolha começa a mostrar pequenos sinais ocorre uma negação sistemática levada a cabo por pessoas dolosas que estão atolados no negócio até o pescoço, estes sabem que não existe crescimento ad infinitum em nenhum setor. Os ingênuos formam fileiras com os dolosos e entram com o seu rico dinheiro em negócios duvidosos como compra de imóveis na planta com preços na hora da morte, com a idéia simples, simplória, que vai subir mais. Nada sobe para sempre, muito menos uma bolha. A venda destes imóveis pode ser lá na frente na bacia das almas.

                                                                 
...a inocular na cabeça dos incautos...
                                                                    Quarta fase ou aumento do marketing. Começam a  fazer propaganda do bem a inocular na cabeça dos incautos que é a sua última oportunidade de entrar no segmento lucrativo. Inoculam através da imprensa que o cidadão está totalmente errado de não ter seguido a manada dos felizes investidores. No setor imobiliários ocorreu isto visivelmente no ano de 2010 e 2011. Se nós prestarmos atenção notaremos que o marketing aumentou muito. Lembrem daquela moça que não viu o imóvel em razão de estar no Canadá e logo arrumaram um jeito de trazê-la de lá, ora, isto é desespero, a construtora piscou e o povão não viu pois acharam a propaganda bonitinha, rimos a valer, da largura de uma enxada, do patetismo ou sentimentalismo para laçar o indivíduo e jogá-lo na manada ou na turma maria-vai-com-as-outras. Nesta fase a imprensa não fica muito animada em descer a lenha em tal tipo de investimento. Colocam uma notícia em linguagem técnica negativa aqui e acolá, mas não fazem os escândalos necessários alertando a manada. Os políticos contribuem bastante com a imprensa panos quentes com os seus barracos intermináveis que alimentarão as suas manchetes. A imprensa sabe que todo mundo aprecia a desgraça alheia. Assim, o foco que deveria mais interessar ao consumidor é desviado, ou seja, deveríamos de estar discutindo o risco da perda do pouco que os pobres e a classe média têm com as aventuras econômicas. Não é correto termos algumas alegrias em curto período de tempo e, ao depois, dores intermináveis, algo como participarmos de uma festa e bebermos todo o Whisky falsificado e... A manipulação econômica perpetua alguns políticos no poder e enriquece poucos.

                                                                            
                                                                         Quinta fase ou da entrada do governo como salvador da pátria. O crédito para comprar mais do mesmo é estimulado. Os juros baixam. Os bancos estatais entram na jogada como uma tropa de elite. A quarta, a quinta e a sexta fase são mais ou menos simultâneas. Nesta fase é difícil segurar os nossos parente e amigos abduzidos pelas bolha e colocá-los em uma camisa de força e levá-los para tomar choque. Eles querem por que querem fazer dívidas, não podem perder a promoção. Alguns exigem  que você faça o contrato em seu nome, já que eles tiveram pequenos probleminhas com o seu bom nome. É muito mais arriscado se o cidadão for corretor de imóveis de uma grande construtora. Nesta situação tente fugir para as montanhas...

                                                                           Sexta fase ou dos descontos. A bolha brasileira está nesta fase, faça uma varredura e você notará que os descontos já chegam a 30% nos imóveis novos neste começo de 2012. Não compre, não caia na armadilha que está barato, pois vai cair mais ainda. Poderá haver até imóvel a troco de picolé como já ocorre nos EUA. o que ainda salva um pouco o Brasil é um certo déficit habitacional. Fato que também pode ser contestado pela pergunta, onde moravam estes indivíduos anteriormente? Alguém poderia dizer, estão formando família com emprego na construção, como corretores, como donos de lojas de tintas, vendedores, depósitos de areia e etc. O esperto responderia: Hummmmmmm, isso também faz parte da bolha. Estes indivíduos também compraram imóveis na hora da morte ou trocaram o seu imóvel por um maior ou mais moderno sobrecarregando a oferta dos usados. Temos uma tese que a Economia como ciência não passa de uma mentira bem elaborada, tal qual a mentira do Direito, da Física que não sabe nem o que é matéria, da Religião e etc.

...não adianta pensar pra trás, o que vale é pensar pra frente...
                                                                           

                                                                        Sétima fase ou do estouro. Nesta há gritarias e acusações, a inadimplência aumenta e algumas construtoras vão quebrar. O governo desesperado tentando curar a bolha elabora um plano infalível que nem o Cebolinha, nada adianta ela explode não há remédio que cure bolha. É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos. Nunca se esqueçam que o país está cheio deles, mormente na política. Trata-se de uma bolha e como toda coisa delicada o seu destino é ter vida efêmera que termina com uma explosão em maior ou menor grau. Nesta fase há acusações, advogados, promotores, boletins de ocorrência, inquéritos policiais e muita baixaria. O espetáculo é deprimente à maneira shakespeariana ou há uma mistura de tragédia e comédia. Empresas sólidas do setor quebrarão. A imprensa panos quentes fará grandes reportagens do estouro e convocará os seus economistas para analisar o ocorrido, ou seja, depois que a vaca foi literalmente para o brejo, assim, não vale. Ora, já que estourou, estourou, não adianta mais o sábio colocar palpites. O tijolo já está quebrado, isso é pensar pra trás, o que adianta neste mundo é só pensar pra frente. Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.



                                                                         Caminhos da felicidade. No texto Avestruz Master, um produto genuinamente goiano dissemos que um dos caminhos da felicidade é não acreditar em dinheiro fácil. As bolhas surgem devido ao excesso de crédito, todo mundo quer vender à prazo, com juros altos e preços salgados. Assim, se você quer realmente ser feliz, não faça dívidas. Toda dívida deve ser uma exceção.


...nunca chame contraventor de mestre...
                                                                          Na antítese. A nossa torcida é que o ideário acima não vingue. Vai sobrar tijolo quebrado pra todo mundo.


                       Com a palavra o nosso eterno mestre William Shakespeare, 1564-1616:
.

..é uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos...
      

...há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia... Machado de Assis iniciou o seu conto A Cartomante, um dos melhores de nossa literatura, com este pensamento.
                   ...o bobo se acha sábio, mas o sábio se acha bobo...


...lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente...

                                      ...os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens...

...aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador...
William Shakespeare
                 

sábado, 26 de maio de 2012

Avestruz Master, um produto gernuinamente goiano

O avestruz é originário da África e vive de
30 a 70 anos com média de vida de 50.
O harém do macho é composto de 2 a 5 fêmeas.


...a composição de água de uma avestruz é de 75 a 85%, ou seja, como ave é leve...
.





...quando a esperteza é muito, ela engole o dono...


...Estrutiocultura é a arte de criar avestruzes...

                                                               Os ingredientes de um golpe. Se conseguirmos qualquer excedente em riqueza o caminho natural é ela ser alocada em algum investimento. Há excedentes na sociedade, quase todo mundo investe. Então, como há excedentes em maiores e menores escalas, há milhões e milhões de investidores no mercado. Ao lado dos investimentos temos o Homem, a esperança, de carne e osso procurando o que é o melhor teoricamente. Dinheiro ávido por lucros fáceis, homens de carne e ossos e euforias turbinadas pelo marketing, tudo isso são ingredientes para uma bem sucedida corrente. Não se esqueçam que a maioria das pessoas não têm paciência de ficar em um investimento seguro mas que rende pequenas quantias como a caderneta de poupança, aí temos uma das essências humanas, ou seja, a vontade de enriquecer rápido,  e isso não é ruim por si só, mas serve perfeitamente para os interesses de uma corrente.

                                                             
                                                                  Uma corrente de avestruzes. Se temos milhões e milhões de pessoas esperançosas de ganhar dinheiro rápido, precisamos de boas ideias. Que tal colocarmos as pobres avestruzes, com sua carne exótica e supostamente muito valiosa no mercado com um frigorífico dando cobertura; que tal a raridade das penas deste bicho vendidas a peso de ouro no mercado. que tal vendermos o investimento ab ovo ou literalmente vendermos os ovos até como aplicação; que tal fazermos muita propaganda e aliciarmos a imprensa e autoridades entregando medalhas reluzentes. Tudo muito bem pensado, é só colocarmos a idéia em prática, todos os ingredientes são perfeitos. Alguém poderia dizer, podemos colocar o boi, só que o boi já tinha participado de uma corrente bem sucedida e dificilmente seria bem visto novamente.


...as penas são macias e servem como isolante...

                                                                    
                                                               A fundação. O grupo Avestruz Master foi fundado em Goiânia-Go no ano de 1998. Logo de início passou a oferecer Cédulas de Produto Rural com compromisso de recompra dos animais.. Estas asseguravam aos seus adquirentes o direito de remuneração, assegurado por um compromisso de recompra das aves. Agora vejam só, quem investisse nas aves  ganharia um retorno de 10% ou até mais mensalmente sobre até o mês em que a avestruz fosse recomprada pela empresa. O lucro seria assegurado pela suposta exportação da carne. O golpe durou sete anos, estourou no ano de 2005, e nenhuma avestruz foi abatida. Ninguém sabe ao certo mas há cálculos que mais de 600 mil avestruzes foram comercializadas e nas fazendas não haviam mais de 40.000 avestruzes. O número de investidores foi imenso, mais de 40.000.


...faça a fama e deite na cama...
                                                                Matutem. Pensem, uma grande empresa considerada excelente lucra 10% e se dividirmos 70 por 10, significa que ela dobra o seu patrimônio em 7 anos. Ora, é uma santa ingenuidade pensar que algo honesto possa dar um rendimento de 10% ao mês. Na verdade é uma ingenuidade que podemos chamar de santa. São pessoas comuns envolvidas em um marketing violento, no disse-me-disse que na esperanças de melhorar de vida embarcam nesta canoa furada. O comportamento da imprensa panos quentes foi até bem pior, eles tem especialistas econômicos e não precisa ser formado em economia para perceber que se tratava de um golpe já  no primeiro contrato. Não existe retorno de 10% mensal aqui, nem na China, como também não existe negócio da China para o homo medius. Nesta coisa toda ele é apenas comida de onça. Analisando alguns investimentos na bolsa de valores, se tomarmos a visão de um crítico feroz, estes não passam de pirâmides, só que bem mais sofisticadas, do que estas pirâmides vulgares.

          ...ganhar dinheiro todo mundo consegue, o difícil é segurá-lo..                                                 
                                                                  



                                                                               Efeito manada. Quando um grupo de pessoas inicialmente obtém altos lucros em determinado investimento acaba influenciando os demais a irem pelo mesmo caminho. Nas correntes há um efeito manada de entrada e saída. Entrar em correntes geralmente traz muito lucro para os primeiros participantes. Aliás estes também participam de um estelionato e deveriam de devolver o negócio, ou seja, este tipo de esperteza não poderia gerar lucro pra ninguém. No mínimo o cidadão deveria de devolver o dinheiro.


                                                                                 A imprensa lucrou muito. Algumas pessoas sabem que a propaganda é a alma do negócio e também das pirâmides. Isto é fato, há um outro ditado que diz que faça a fama e deite na cama. De nada adianta se você ou o seu produto não são conhecidos. Na maioria dos negócios se gasta mais com propaganda do que com o produto. Tudo funciona como uma lavagem cerebral e o homem é influenciável por ideias. Sabendo disso os autores piramidais só no ano de 2004 investiram em torno de 40 milhões na imprensa e apenas R$ 1000.000 em ração para estas aves. As matérias que alertavam sobre o golpe não tinham destaques. Quem ousasse denunciar era processado.

...a sua carne tem o
sabor de um bife magro,
com menos gordura e colesterol...
                                                                Mais de um bilhão de reais em  prejuízos. Este número é apenas uma estimativa, os prejuízos na verdade são muito maiores. Os morais são inimagináveis.

                                                               A cidade de Iporá-Go viveu euforia e pânico. Havia um escritório regional dos bichos em Iporá. Grande parte da cidade se envolveu na corrente. O estouro desta causou pânico e ranger de dentes. Foi uma dor cruel. As autoridades não agiram.

...dinheiro não cai do céu...
                                                                 O estouro de uma corrente é trágico e cômico. Pessoas tristes, chorando e outras desesperadas, este foi o final trágico de um golpe avisado por poucos durante os sete anos que ele durou. Algumas pessoas investiram o único dinheiro que tinha, venderam a pr´popria casa de morada e fazendas para alocar no investimento. Os desesperados saíram querendo matar os autores da pirâmide, outros desesperados em cenas cômicas correram nos pastos e agarraram até avestruzes pelo pescoço tentando levá-las para a sua casa. Como foi horrível e cômico ver pessoas incautas correndo atrás de avestruzes que atingem a velocidade de 80 km. Toda tragédia tem o seu lado burlesco, histriônico e William Shakespeare foi um dos primeiros e que mais explorou este lado em suas peças. Por isso, as suas obras tiveram uma grandiosidade, mormente na época em que foram escritas. As suas peças inovaram neste aspecto. Hamlet é imperdível.


...os maiores olhos das aves terrestre são das avestruzes...

                                                                  Morte e condenações. O Sr. Gerson Maciel da Silva faleceu em 23 de fevereiro de 2008 de câncer no fígado. Os outros acusados também receberam penas de 12 a 13 anos de prisão

                                                                  Nunca se esqueçam. Depois desta corrente já surgiram outras correntes no Brasil. Novos golpes serão urdidos. A memória do povo é curta e não fique de queixo caído caso surja a corrente do crocodilo e outros bichos, exemplificativamente.

                                                                  O mito de esconder a cabeça. O avestruz tem a fama de esconder a cabeça ao menor perigo, isso não é verdade. Talvez este mito se origina do fato de se nos contemplarmos a ave à distânciaa sermos tomados pela impressão que ela está escondendo a cabeeça. Na corrente os investidores agiram como as avestruzes do mito escondendo a cabeça à realidade cruel que não existe ganho de 10% mensal.

...uma passada de avestruz atinge de 4 a 5 metros...


                                                                                                             Hiperrealidade. O homem gosta de viajar na maionese, é uma realidade e criar hiperrealidades como se fosse possível a existência do dinheiro fácil é uma grande realidade, candidata a sair com o título da rainha das hiperrealidades. Estas pessoas são apenas vítimas, viajam na maionese e com certeza voltam a cair em outros golpes. Coisas do povo. Hiperrealidades também colocam no laço pessoas com curso superior e ocupantes de cargos nobres na sociedade. Foi o que ocorreu neste caso.

                                                                      

                                                                       Os caminhos da felicidade. Uma das propostas deste blog é ensinar o caminho da felicidade e para isto não podemos olhar as ciências como se fossem compartimentos estanques. Na verdade tudo se relaciona com tudo. Filosofia, Mitologia, Direito e Economia estão muito mais interligadas como ciências do que muitos imaginam, não cometa o erro crasso que existem compartimentos estanques no conhecimento. Já que o propósito do ser humano em última instância é ser feliz e o dinheiro contribui para a felicidade, toma lá um conselho: não acredite em dinheiro fácil, muito menos em investimentos que dão 10% ao mês, seja sempre cético, pode ser que isto ocorra, mas isto é um caso tão isolado que foge a esta regra geral. Se nós seguirmos este conselho, não ouviremos coitado e já estaremos colocando o pé no caminho da felicidade.

Aparelho digestivo semelhante ao dos
ruminantes, sem dentes, engole areia
 e pequenas pedras para ajudar na digestão 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Bolha veicular






...o que cai poderá cair mais ainda, é a regra do fundo do poço...

                                           Quem diria que nos primeiros meses de 2012 o Brasil vivenciaria com maior intensidade uma bolha veicular.


                                            Digo e redigo quem diria em razão de termos vivido nos anos 80 uma falta de veículos em que as pessoas estocavam veículos com a certeza que eles subiriam constantemente. Até as montadoras encondiam os veículos. Agora a realidade é totalmente oposta, segundo informações há mais de 1,5 milhões de veículos usados à venda. Daqui a pouco você poderá levar para casa um carro usado de (s)graça desde que assuma as dívidas, multas e impostos. Deverasmente, o capitalismo tem das suas.


                                               Veículos novos e nas concessionárias chegam a 1 milhão.


                                              Destarte, em tempos bicudos, mesmo com a baixa de impostos e de juros, tudo, ainda, é muito caro no Brasil. O que cai poderá cair mais ainda, é a regra do fundo do poço, do desespero e do pânico. Não entre nesta onda de fazer dívidas em épocas de incertezas. É o que o governo deveria de dizer para a população se não estivesse dependendo de impostos e endividado. Vamos investir na educação, nas crianças e em cursos de aperfeiçoamento. O recado é: desperdicem, gastem, façam dívidas, uma verdadeira loucura.


                                                Desespero. O governo está desesperado, se não bastasse a bolha imobiliária que começa a dar sinais de sua cara monstruosa, agora, vem a bolha veicular.  Estas medidas  funcionam por algumas semanas e a festa acaba com nova explosão, ou seja, quem compra veículo novo quer vender um usado, geralmente, aumentando artificialmente a demanda. Demanda boa é aquela em que o cidadão que poupou compra o seu automóvel à vista ou parcela uma pequena quantia. O desespero é tanto que o governo está colocando na parada os bancos chapas brancas e levando de roldão os privados que são obrigados a seguir os públicos para não perderem o chamado market share. Os novos tomadores de crédito só poderão ser os verdadeiros ninjas - no income, no job, no asset - já endividados como nunca se viu antes neste país. Os bancos já estão numa fria creditícia. Mergulharam muito no créditpo e o governo continua incentivando. Algo como se a bicicleta da economia parar, o tombo será espetacular.


                                                  Comprar agora é uma loucura, a situação européia está indefinida e se a Grécia sair do euro, o que poderá acontecer de pior? É a pergunta sensata que um homem prevenido faria para o governo que incentiva o consumo veicular exaurido. O certo é que temos eleições em 5 de Outubro deste ano, o governo quer vencê-las a todo custo. Tudo tem que parecer às mil maravilhas. Depois das eleições, momento cívico em que o cidadão, alegremente, deposita o seu voto nos mesmos de sempre, o brasileiros e as empresas não poderão ser abandonados a deus-dará, como costuma acontecer? Fica a pergunta.


                                                      O consumo deve ser espontâneo, nada de anabolizantes, uma vez que a conta costuma ser salgada lá na frente com  quebradeiras, inadimplências e desesperos. Sem falar na grande humilhação que o indivíduo sofre. Mesmo que a inflação exploda não haverá corrida para este ativo, é que existem veículos à farta e à saciedade, desta vez a bugiganga dará para todos. Os governos descobriram que os veículos são presas fáceis na cobrança de impostos na hora da morta e na imposição de multas, sem falar nas taxas e outras despesas. A indústria da multa já foi instalada aqui nesta terra de cegos.

                                                       O ativo rent3. Quem estiver neste investimento já deveria ter caído fora. A previsão é que os veículos usados cairão 25%. Quando se fala em 25% significa que o tombo pode ser maior.  Esta empresa aluga carros e vende-os depois de certo tempo de uso e eles constituem parte de seu patrimônio. Não preciso dizer mais nada.
                                                        

                                                        A cobrir um santo e a descobrir o outro. Quem é mais vivido sabe que nada vem sem dores, ora essa, ajudar as montadoras vai porejudicar o homem comum, o garagista, a rent3 e outros, ou seja, o governo cobre as montadoras e descobre os outros. O cobertor é sempre curto. Isto não é pânico veicular? Este filme de terror já foi visto nos EUA.
                                                       

                                                          Os números não mentem. A verdade pode estar na matemática e segundo os últimos números a inadimplência veicular está em torno de 5,67%, ou seja, os calotreiros que compraram veículos e não pagaram há mais de 90 dias gira no valor de mais de mais de 10 bilhões de reais. O bom é uma inadimplência abaixo de 3%. Agora pensem, diante deste números o governo deveria: estimular o corte do crédito para evitar uma inadimplência maior lá na frente ou estimular mais créditos alegando um fator excepcional como a crise européia colocando os bancos nesta jogada. Ficaria com a primeira opção, as empresas devem se virar, cortar lucros, fazer inovações tecnológicas e etc. Se o programa fosse para educar o povo, vá lá, mas carro para poluir, consumir combustível e contribuir com mais congestionamentos é  coisa de louco.


                                                          Em resumo, comprar agora fazendo dívidas é loucura. Agora, se você é daqueles que gosta de economizar e economizou a hora está chegando para a onça tomar água ou ir às compras e pagar à vista, com descontos e mais descontros,  sendo bem tratado na concessionária, onde o vendedor antigamernte nem olhava para a sua cara. Peça água e depois café, aproveite para ler o jornal panos quentes - a maioria no Brasil - de graça. Não vale a pena comprá-lo. Quanto ao usado tipo carro de mulher, exija-o de graça para pagar os impostos e multas. Se você tem um nestas condições deixe-o na porta do inimigo com chaves na ignição e o recibo assinado no porta-luvas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Pujança e miséria do ativo OGXP3 ou OGX, primeira parte.



Esse logotipo faz-me lembrar da bandeira Argentina dos
 nossos hermanos
                                   

...já aprendemos que a esperança é a base psicológica do homem e os ativos também vivem de esperanças...

                                 
...Eike é um baita marqueteiro que vendia enciclopédia na Alemanha. E um cara que consegue vender enciclopédia, vende qualquer coisa. Não dá para negar que é muito esperto e consegue conquistar o investidor, o governo, todo mundo. Ele arrematou o terno do Lula em um leilão em São Paulo e, no dia seguinte, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou 150 milhões de reais para que reformasse o Hotel Glória. Ele consegue o que quer...(J.C. Cavalcanti em entrevista à Exame.com)
                                                                     O ponta pé inicial. A Empresa de petróleo e gás do grupo do empresário Eike Batista foi fundada no ano de 2007. A empresa se capitalizou de diversas formas, com emissão privada de ações e IPO  ou Initial Public Ofering em Junho de 2008 quando conseguiu captar 6,7 bilhões reais, nunca antes uma empresa no Brasil tinha captado tanto dinheiro na bolsa de valores, não precisamos nem de dizer que houve euforia com o futuro do ativo. A dinheirama foi destinada à contratação de pessoal, a peso de ouro da Petrobras, e, principalmente, à aquisição de áreas de exploração na Nona Rodada de Licitação da ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis - onde a OGX adquiriu o direito de concessão de 21 blocos exploratórios nas bacias de Santos, Campos, Espírito Santo e Pará-Maranhão, totalizando cerca de 6,4 mil km², desembolsou nestes blocos a quantia de 1,4 bilhão de reais.  Faço a ressalva que contratar funcionários a peso de ouro não é bom para os acionistas, obviamente.
                                                  
                                                                        
                                                                        Contratação de consultoria. Com as áreas em mãos, a OGX contratou a consultoria DeGolyer & MacNaughton para avaliar o potencial dos recursos sob sua responsabilidade, que totalizaram 4,835 bilhões de boe. Isso é apenas uma estimativa, a consultoria foi paga pela própria empresa e foi necessária para a oferta pública de ações, ou seja, o investidor comprou a possibilidade de haverem 4,935 de barris de óleo recuperável ou Boe, usando uma linguagem técnica. Tudo está enterrado no oceano ainda sob a proteção de Poseidon. Ainda não houve a declaração de comercialidade do produto, se isto ocorrer, aí sim a empresa terá uma fortuna em mãos.

                                                                         Aplicação do dinheiro dos acionistas no mercado financeiro. No caso da OGX, por ser uma empresa pré-operacional não tem o seu prejuízo maior devido a aplicação do dinheiro dos acionistas no mercado financeiro. Exemplificativamente, o rendimento das aplicações financeiras no terceiro trimestre de 2011 foi de R$ 138,8 milhões. Isto é o que chamamos de gestão de recursos em caixa.

...FPSO ou Floating, Production, Storage & Offloading...
                                                                         Já deu com os burros nágua em quatro poços. Um na Bacia de Campos ou OGX-58DP e três na Bacia de Parnaíba ou OGX-49, OGX-57 e OGX-66. Enfim, os acertos não são tão pungentes como alardeiam alguns.

                                                                         Farm out. É o processo de venda parcial ou total dos direitos de concessão detidos por uma companhia, muito comum no setor petrolífero. O mercado espera que isto possa acontecer quando os preços melhorarem. Extrair petróleo fica muito caro ou a empresa aumenta o capital social, ruim para os acionistas nas maioria das vezes;  ou emite dívidas como debêntures, nem sempre consegue fazer dívidas com juros camaradas; ou faz o farm out, o melhor seria retirar o petróleo. É um dilema que a empresa enfrentará ad futurum.

                                                                              Resumo do ano de 2011.  Encerrou 2011 com prejuízo líquido consolidado de R$ 509,885 milhões ante resultado negativo de R$ 135,525 milhões apurado em 2010.

                                                                               Primeiro trimestre de 2012. O prejuízo foi grosso, ou seja, de R$ 144,8 milhões, a noticia boa foi que no quarto trimestre de 2011 o prejuízo foi bem maior ou de R$332,587 milhões. Se compararmos este trimestre de 2012 com o primeiro trimestre de 2011, o resultado é bem negativo, quando teve prejuízo de R$ 33,884 milhões ou dez vezes maior.


                                                                              121 poços até 2013. A intenção da empresa é estar explorando 121 poços até 2013.


                                                                                Euforias e pessimismos. Por enquanto o ativo vive de euforias e pessimismos em uma empresa quase pré-operacional. Duas correntes foram formada no mercado e na mídia, os esperançosos e os pessimistas. Eis a questão, to be or not to be no ativo. Podemos dizer que os otimistas estão ganhando uma vez que quem investiu em bons ativos está no lucro e quem investiu no IPO.


                                                                                 Profeta econômico do Brasil. Muitos acham que o Sr. Eike é o novo profeta econômico do Brasil, particularmente, não gostamos de profetas, caciques, lideres e queijandos, o melhor é pensarmos com as nossas próprias cabeças. O Brasil, sem embargo das melhoras, continua um país de corruptos e ignorantes de carteirinha, não se iludam. Certamente, as coisas tem tudo para darem errado, contudo, a especulação é contagiante, de quando em quando a mão coça, com vontade de fazer um balanço na algibeira, no entanto, abaixo a euforia, é melhor aguardarmos os primeiros resultados operacionais da produção de petróleo da empresa. Estaremos de olho nesta novela com alto nível de audiência.

                                                                           As três Moiras das empresas petrolíferas. Toda empresa petrolífera acaba sofrendo três males quase inevitáveis:  o prazo para retirar o petróleo é sempre maior do que o previsto; os custos acabam sendo bem mais salgados; e as reservas no final das conta são sempre menores.

Quadro de John Melhuish Strudwick, 1849-1937, representando
as Moiras Cloto, Láquesis e Átropos. Para maiores detalhes vejam
o nosso texto: As Moiras, a nossa vida eternamente por um fio.


                                                             O início tão esperado da extração de petróleo no campo de Tubarão Azul. No planejamento da empresa a extração do petróleo começaria em 2011. Só começou no início de 2012 no poço OGX-26HP, ou seja, cumpriu-se a regra que os prazos são sempre dilatados.  A demora foi justificada por diversos problemas legais, ambientais e operacionais enfrentados durante o período. A licença do IBAMA  só foi obtida no último dia 2 de janeiro. A empresa conta com 35 blocos de exploração, sendo que 22 se localizam em área marítima. O campo de Tubarão Azul é o primeiro da lista para entrar em operação. Ele foi descoberto em 2009, e a plataforma a ser utilizada, a FPSO OSX-1, chegou ao Rio de Janeiro em outubro de 2011.Teste de Longa Duração (TLD): São testes de formação com tempo de duração maior que nos testes convencionais, com tempos totais de fluxo superiores a 72 horas, realizados durante a Fase de Exploração, com a finalidade exclusiva de obter dados e informações para conhecimento do comportamento dos reservatórios e dos fluidos durante a produção. Na verdade o poço OGX-26HP está em TLD e isso pode durar até meses.


                                                                   Oscilações bruscas. Dependendo do humor do mercado o ativo vai às alturas e depois desce às profundezas, ou seja, oscila muito, produz verdadeiras ondas de altas e baixas. Alguns poucos investidores surfam bem nestas ondas ganhando dnheiro fácil. É preciso ser craque, um campeão com timing perfeito. Aviso: não é para qualquer um, a chance de prejuízos é maior.












sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pujança e miséria do ativo BVMF3

Na data de 13/10/2010 o ativo atingiu
um pico de fechamento em R$ 15,62.
No último dia de bolsa em 2011 fechou
 em R$ 9,80



                                                                        O fantasma da concorrência. O problema de todas as empresas é a concorrência que não dá trégua. O mundo empresarial é uma selva na qual todos são obrigados a entrar numa disputa encarniçada, mesmo que não queiram. O problema do ativo é este fantasma, em 2011 apareceram dois fantasmas para o ativo: a americana Direct Edge Holdings que pretende se estabelecer no Rio de Janeiro. A intenção desta empresa é oferecer uma plataforma que negocie ações, ETFs (fundos de ações que negociam em bolsa), e também certificados de depósitos de ações. A empresa é a quarta maior bolsa americana com uma participação de mercado de 10% e tem a intenção de iniciar as operações no último trimestre de 2012; a outra é a BATS Global Markets, terceira maior bolsa americana, que também pretende criar um ambiente alternativo de negociações no Brasil em parceria com a gestora brasileira Claritas. A empresa que será criada já chamada de  Nova Bolsa do Rio de Janeiro espera primeiro atrair investidores estrangeiros e os operadores de alta frequência, que já são clientes nos EUA. Os sistemas das empresas estão entre os mais rápidos do mercado e esta vantagem poderia ser mantida na chegada ao País, sem que as despesas com a operação fossem muito altas. A estrutura de custos, tanto de uma como de outra, é enxuta. O modelo delas permitiria teoricamente a redução das tarifas, o que potencialmente pode resultar em uma guerra de preços. Uma das justificativas para a entrada no Brasil destas empresas é justamente os custos aqui que segundo elas são altos, a BVMF nega e, está preocupada uma vez que que anunciou investimentos em 2012 de até R$ 280 milhões. Destarte, o ativo é ótimo, com lucros superiores, se comparados com empresas semelhantes nos EUA e mundo afora, agora, a concorrência pode chegar e estragar tudo, com a possível consequência de diminuição dos lucros nos próximos anos. Lucro é tudo. Este é o dilema do ativo, se não fosse isto, e o mercado parecer em tendência bearish pós crise 2008 - nunca se esqueça que a tendência é a sua amiga, não nade contra correntezas-, poderíamos mergulhar de cabeça. De qualquer maneira a concorrência é muito bem vinda, nada de monopólios.


                                                                        O primeiro trimestre de 2012. Fechou o primeiro trimestre de 2012 com um crescimento de 6,5% na receita líquida, para R$ 502,8 milhões. Um ano antes, havia atingido R$ 472,2 milhões. A notícia alvissareira é que, as despesas da Bolsa caíram 11,9% na base de comparação anual, passando de R$ 188,7 milhões para R$ 166,2 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização somou R$ 368,3 milhões, com alta de 19,6%. O lucro líquido teve crescimento de 3,6%, para R$ 280,4 milhões. O segmento Bovespa teve crescimento de 6,3% no volume médio diário negociado, atingindo o recorde de R$ 7,2 bilhões. No segmento BM&F, no entanto, o volume médio diário caiu 5,3%, pressionado pela queda de 18,6% nos volumes dos contratos de taxas de juros. No final do trimestre, a dívida da Bolsa somava R$ 1,1 bilhão, devido às sênior unsecured notes, emitidas em julho de 2010. É uma boa pagadora de dividendos tanto é que o diretor executivo financeiro, corporativo e de relações com investidores afirmou durante teleconferência sobre a divulgação destes resultados que foi aprovado o pagamento de R$ 224,3 milhões em dividendos, 80% do lucro societário dos três primeiros meses do ano.

                                                                          Acompanharemos o desenrolar desta novela. Será que os fantasmas da concorrência  aparecerão com força?



                                                    




terça-feira, 1 de maio de 2012

O Pé de Bota




Rua da Pedra



                                                         O Buraco
                                                     
                         
                                                         Capítulo X - O Pé de Bota e o caça-níquel  

...ninguém está acima das vozes do mundo...Júlio Diniz, 1839-1871,
 autor de As Pupilas do Senhor Reitor, a sua melhor obra
                                                        


                                                               Com a avó atrás do toco. Naquele dia insondável, o nosso Pé de Bota acordou de madrugada em estado anímico que podemos definir pela expressão antiga: com a avó atrás do toco. A sua mulher dado o barulho do homem que limpava a garganta de quando em quando, também despertou muito mau humorada e ficou passando às mãos nos olhos, retirando as remelas. Inadvertidamente, em um ato pouco pensado, ela levou a mão esquerda com muita rapidez, dado o irritamento em que se encontrava, para retirar a remela do olho direito. Esta ação corporal gerou uma tragédia dinâmica, uma vez que a força do seu pesado braço esquerdo fez com que o seu corpo balofo rolasse para a direita e caísse da cama como uma pipa cheia de vinho desabando de uma adega e desse direto com a testa no cimento frio. E um galo graúdo iniciou a sua saga em sua testa;



...As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra e antes de uma eleição.
Otto Von Bismarck, 1815-1898, primeiro chanceler do império alemão
                                                  


                                                                                O Pé de Bota, de olho na tragédia. farejando malfeito, abriu um sorriso da largura de uma enxada, e rindo, com a boca, deverasmente doce, chegou a esfregar às mãos de felicidade. A sua patroa não achou nenhuma graça nisso, ficou furibunda, em ponto de guerra doméstica e levantou-se do chão, pisando pesado, direto para o banheiro, onde pegou a escova de dente com violência e a pasta com ânsias de esmagamento, soltando cobras e lagartos. Algum tempo depois passou pelo quarto e embicou para a cozinha. O Pé de Bota fez as contas e conclui que tinha começado o dia ruim e que logo depois tinha se divertido a valer às custas de sua mulher. Estava, portanto, empatado em termos de ganhos e perdas. Em seguida sentou-se na mesa todo pimpão esperando o seu cafezinho com pouco açúcar, como era do seu agrado, o seu leitinho quente com Toddy e o pão com a devida manteiga. Ficou ali sentado com ar zombeteiro e expressão abobalhada e irritante. A patroa farejando o deboche do bofe e urdindo uma vingança óbvia, bradou retumbantemente que o café da manhã estava suspenso naquele dia. O nosso herói que gostava bastante destas iguarias matinais e todo dia antes de devorá-las ficava na mesa salivando à espera delas, o que fazia que começasse o dia feliz. Neste momento fez novas contas e concluiu que tinha começado o dia ruim, que o dia tinha melhorado com o tombo da patroa e agora piorara com a suspensão do café da manhã, ou seja, estava no prejuízo, com o placar marcando 2x1 em seu desfavor. O sangue subiu para cabeça do nosso personagem e como sempre acontecia, ficou possesso. Ora essa, ficar sem o café era o fim da picada e desferiu vários impropérios em direção à patroa acompanhados com alguns estrépitos de eletrodomésticos. O instinto feminino respirou o perigo e, incontinente, lançou mão de uma faca de cozinha pontuda e com o corte bem afiado e segurou-a com mãos firmes, pronta para a escaramuça. O homem, sentindo a ameaça, fez cara feia, a mulher rosnou de volta. A vizinhança do casal atenta aos fatos já sentia sangue quente, viatura policial e boletim de ocorrência, algo desagradável e prazeroso para ela. Não houve sangue e queijandos, ambos recuaram, em uma nuance racional. 


                                                            O caminho. Endoidecido, o nosso personagem chegou à conclusão que era melhor tomar outros ares e, dando meia volta tomou a porta da sala e ao sair bateu ela violentamente, as paredes estremeceram, a mulher sorriu vitoriosa. O seu cão Carente percebendo a sua presença veio ter com ele fazendo festas e abanando o rabo, levou um chute e saiu ganindo triste. Depois de caminhar algum tempo, finalmente, chegou a Rua da Pedra e pôs-se a equilibrar em suas pedras irregulares e desniveladas, muito preocupado em não levar um tombo nestes traiçoeiros elementos. Ao avistar a Rua Americano do Brasil, descambou para à esquerda em suas ronceiras pernas, sacolejando a sua enorme e gelatinosa pança de um lado para o outro, ao final, já sem fôlego, deparou com a movimentada Rua 15 e foi direto para a Rodoviária Velha.


                                                               Ali,  logo se achava no estabelecimento comercial do Zé do Bar onde cumpriu o seu ritual de sempre, ou seja, ir até a parede onde foi contemplar um pôster, amarelado pelo tempo,  do Vila Nova de 1963, ocasião em que foi tri-campeão, ao depois, já mais aliviado sentou-se em uma mesa de ferro que se achava bem à  frente de uma máquina caça-níquel, seu vício nos últimos anos, e passou a contemplá-la com olhos mornos e apaixonados. Ficava encantado com o colorido da máquina; as suas luzinhas de todas as cores perturbavam os seus neurônios volúveis; a alavanca e seu barulho arrebatante, não deixavam por menos, proporcionavam os melhores momentos; segundos antes de descê-la sentia esperanças verdadeiras de lucro grosso desembocando pela boca metálica, estes segundos antes de puxar a alavanca eram adrenalina pura para a sua mente, conturbada na hierarquia e na disciplina.


                                                               Zé do Bar. Este  ao vê-lo ali tão cedo abriu um sorriso, esperava presa fácil, e além do mais tinha uma notícia quentinha para ser repassada aos demais. Queria compartilhar com alguém, com sofreguidão e muitos sorrisos marotos, o assunto que rolava de boca em boca e que já estava sendo conhecido como O Caso do Ceguinho. O início deste assunto deixou o nosso personagem deverasmente contrariado. Ora essa, passar por uma briga doméstica bem cedo, ficar sem o seu Toddynho com leite tinha sido horrível, agora, ouvir falar de outra briga doméstica dentro das emoções da sua, era o fim. Depois de fazer uma cara meio abobalhada disse:


                                                                - Ahnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn! Mostrando desinteresse.
                                                       

                                                                 - Pois é, dizia o Zé do Bar, e não é que aquele bebinho lá do Setor Aeroporto tomou todas, ate ficar sem um tostão. Ficou rico, bonito, valente e abusado, essas coisas de bêbado, só que quanto mais bebia mais queria beber, parecia tomado por um Exu sem luz que não o largava de jeito nenhum, o que em resumo podemos denominar cientificamente de um verdadeiro inverno alcoólico. Enfim, em abusos, foi ter com a sua patroa, exigindo o restante do dinheiro da família para mais álcool. Só que a mulher desta vez bateu pé e tomou firme opinião que não o daria em hipótese alguma, isto é, não aceitaria abusos. Isto foi o bastante para ameaças de agressões físicas e, dado o adiantado da hora, foi dormir com a sua filha lá na casa do Ceguinho, seu amigo, ali bem perto.

                                                                E continuou, com ares zombeteiros:
                                                    

                                                             - acredite, o bebinho tirou uma soneca e lá pelas três da manha fez contas e chegou à conclusão que a sua mulher lhe tinha humilhado duas vezes, uma em não lhe fiar dinheiro para as águas-de-cana, o qual tinha direito por ser lavrador honesto e trabalhador e em ir dormir na casa do vizinho, fazendo escândalo grosso com toda a vizinhança. Se julgou injustiçado nesse mundo e foi tirar as corretas e devidas satisfações. Ali na casa do Ceguinho tinha um hóspede, um seu amigo, que pousava ali sempre e foi este quem recebeu o bêbado e, como não tinha menor paciência com este tipo de gente tratou-o com muita dureza, ao perceber o estado alcoólico do malino, sem falar nos impropérios entre bocejos e fechar de olhos. Esclareço que o hóspede tinha roçado pastos e estava com o corpo moído. O embriagado recuou e voltou para a sua casa, já no quarto, sentindo um calor enorme devido aos impropérios recebidos, resolveu tirar toda a roupa. Este cidadão , novamente, fez umas contas confusas e chegou a conclusão que na estória tinha sido ofendido por três vezes, e que as coisas não deveriam de ficar assim. Dado ao seu estado cambaleante vestiu tão somente as calças, esquecendo de colocar camisa e cueca e mirou a casa do Ceguinho com resolução firme, ali viu um belo porrete na entrada da casa e se armou dele e, ao depois passou a chutar a porta com muitos desaforos. Todos da casa acordaram em sobressaltos e o hóspede foi atender o bebinho e ao colocar a cachola para fora recebeu um baita de um golpe e caiu desfalecido no solo. Tombou como uma jaca. O embriagado ficou estático, não acreditava no que tinha feito, só que o hóspede recobrou as suas forças rapidamente e ao passar a mão pela cabeça e ao ver sangue quente  ficou possesso, imbuído de tenso e inebriante animus necandi. Se levantou e tomou o cacete daquele e rumou um golpe certeiro em sua cabeça, o infeliz caiu sentado e indignado, e tomando forças se levantou e os dois travaram uma luta, instante em que o Ceguinho já intervinha. Sem saber o que fazer na  disputa, o Ceguinho urdiu um plano infalível, ou seja, avançou nas calças do bêbado para retirá-las com bastante empenho. Acreditava que se retirasse as calças do infeliz poderia acalmá-lo pela vergonha do nu.

                                                                 Neste momento, o Pé de Bota desatou um sorriso alto, às bandeiras despregadas, estava achando o caso todo digno de ouvidos e firmou o peito para apreciá-lo melhor. E veio repentinamente em sua cabeça a ideia de que tinha se saído de sua briga doméstica muito melhor que o bebinho, sopesou que no seu caso não haviam porretadas recíprocas, portanto, estava no lucro. E lascou com ironia e malícia:

                          
                                                                  As reais intenções do Ceguinho devem ser rigorosamente investigadas pela polícia. Continue, aproveite o intervalo e me traga uma água-que-passarinho-não-bebe. O Zé do Bar que contava e ria, perdeu o rebolado do caso e foi buscar a água-de-briga com um riso menor na sua face avermelhada. Ao depois, perguntou:


                                                                    - Onde estava mesmo!

                                                                     Retrucou o outro sorvendo todo o cobertor-de-pobre com ar zombeteiro:

                                                                     - No embaraço das calças, continue! conheço o cidadão, é osso duro de roer, gosta de confusões, só Freud explica, um louco da silva, uma verdadeira peste, já me deu trabalho, continue!  

                                                                     
                                                                       - Outra limpa-goela, compadre!

                                                                       - Ora essa, não devemos perguntar se defunto quer cova, fala sério, manda outra tira-vergonha, rápido, isso é pra quem sabe beber!
                                                  

                                                                        - Bem, nunca se esqueça que ninguém está acima das vozes do mundo, é regra universal, o caso é que o Ceguinho conseguiu retirar as calças do bêbado que ficou desesperado ao se ver completamente nú. O pior veio depois, cumprindo a regra que desgraça pouca é bobagem, é que o Ceguinho de posse das calças arremessou-as com tanta força que elas foram parar no quintal do vizinho. A cena tétrica, nefasta e nefanda para o bebinho de ver as calças alçarem voo em hora desapropriada fez com que ele melhorasse de sua cachaça como por um milagre. De longe ouviu o barulho da viatura da polícia e achou melhor sair correndo pela rua completamente nu, com o objetivo sólido de adentrar em um matagal próximo. De nada adiantou, foi preso e às pressas arrumaram-lhe uma calça e o caso agora está sob os auspícios da Lei Maria da Penha.

                                                                        - Veremos como o bebinho se sairá desta, veremos! repetia balançando a cabeça o nosso pequeno empresário. Essa lei vai endireitar essas peças ou vai extingui-las.

                                                                         - Deixa disso homem, o indivíduo se dará bem, afinal, ele tem pouco a perder, é um bêbado irresponsável, um exu sem luz, e é o que mais temos aqui neste buraco de uma figa, o assunto, no resumo de tudo, é um problema social. Vamos traga-me outra engasga--gato, coloca a música de minha vida que depois vou te contar uma boa desta peça rara.

                                                                           E o barzeiro pela milésima vez colocou a música da vida do cidadão de Leo Canhoto e Robertinho ou O Homem Mau:


                                                                           
Atenção crianças, não fiquem na rua!
O terrível Homem Mau esta ali no bar.
Eu sou o Homem Mau, eu sou mau, mau mesmo
Vendeiro traz cachaça com farinha pra todos
Vamos logo, mistura esse negócio ai, é pra todo mundo beber
Onde vai moço?
Eu vou indo embora, eu nunca bebi (tiro)
E nem vai beber
E você ai, como é seu nome?
Meu nome é Pedro ( Homem mau dá um tiro em Pedro que fal bem fino)
Era Pedro, agora é Defunto. Hahahahaaaaaaaa
Sua cara muito feia dava medo até de ver
Quando entrava na cidade dava tiros pra valer
Não tinha nenhum amigo, só vivia pra matar
Certa vez numa vendinha veja o que foi se passar:
Quem é o dono dessa porcaria aqui? (O homem mau pergunta)
Sou eu, senhor
Então, ta dormindo? Traz Whisky logo.
Não tem Whisky?
O que é que eu bebo então?
Bebe leite!
Quem bebe leite é bezerro! (O homem mau dá um tiro no vendeiro)
Toma! Aprenda a respeitar o Homem Mau.
E essa mulher de quem é?
Essa mulher é minha! (tiros)
Era sua, agora é minha! Hahahahahahahaaaaaa
Certa vez mais um bandido apareceu no povoado
Pra matar o Homem Mau ele veio contratado
O Homem Mau falou pra ele:
-Você veio me matar! A madeira do caixão você já pode encomendar
Então você veio me matar não é? Quem é você?
Eu sou o famoso Billy Gancho por quê? (tiro)
Pronto. Era Billy Gancho, agora é Defunto Gancho. Hahahahahahahaaaaaa
Todos tem seu dia certo, todos tem seu fim marcado
Pra acabar com o Homem Mau veio de longe um delegado
Os dois homens frente à frente lá na rua se encontraram
O Homem Mau e o delegado desse jeito conversaram
Então você é o delegado que veio acabar comigo?
Qual é o seu nome delegado?
Meu nome é Justiça. Você está preso Homem Mau.
Hahahahahahahaaaaaa...Quem é você para me prender delegado?
Fique sabendo que eu sou o Homem Mau, Mau. (tiros)
É você era o Homem Mau, agora é Defunto Mau.
A justiça sempre vence
Terminou aquela intriga
O Homem Mau amanheceu com a boca cheia de formiga
Lá na sua sepultura escreveram com desdenho:
"O Homem Mau morreu deitado e não faz falta pra ninguém"
           


                                                               Este som provocou enlevos e arrepios no cidadão que sorveu o xarope-dos-bêbados com boca doce, e depois de ouvi-la começou:               



                                                              -Veja só, vou lhe contar outro caso do cidadão, dias atrás, já de madrugada, em minhas patrulhas, lá pela descida da Serra Dourada, passou um cidadão em uma camiooneta C-10 jurando que tinha visto um corpo no asfalto. Não acreditei no que ouvia, no entanto, para não ficar com a consciência pesada, fui ver o caso e não é que logo à frente o vi deitado na pista de rolamento. Nunca fiquei tão indignado na minha vida. Encontrar um homem bêbado no asfalto com uma garrafa de aguardente do lado foi o fim da picada para o meu espírito. Não aguentei e tirei o cinto e ataquei o meliante sem dó. Foi uma baita de uma sova, de arrancar pica-pau do oco. Recuperado da sova, ainda teve a cara de pau de apresentar defesa inteligente e dizer que estava olhando as estrelas e que como o seu ouvido estava muito próximo do asfalto e em razão disso, ao perceber barulho de rodas, se levantaria imediatamente.
                                                                          
...iria tomar um refocilante banho de cachoeira...
                                                                           - Não sei não compadre, talvez, neste caso o cidadão tenha razão, esta defesa tem respaldo na física.

                                                                            - Só que alguém poderia se assustar com o miserável ao ver cena tão inusitada e se envolver em acidente grave. O comandante também colocou esta antítese e eu logo refutei colocando esta última tese que desabou a segunda. Pelo menos o meu segundo grau serviu paras isto, conversar com mais elegância e poder me defender. Ao final riu e muito e mandou colocar na minha ficha este bom serviço prestado à comunidade. Nunca se esqueça, o homem é uma peste! Tem coragem de pegar um cego à traição!  

                                                               Rindo ainda, O Pé de Bota voltou os seus olhos para a máquina e pediu outra filha-do-senhor-do-engenho e levou a mão na algibeira fazendo balanço do dinheiro que carregava e decidiu enfrentar a sorte. Ora essa, tinha tido um dissabor ao levanta com a vó atrás do toco, um sabor ao ver a patroa rolar como uma pipa, um dissabor em brigar com ela e ficar sem o seu leitinho e empatando o jogo tinha ficado muito satisfeito com o caso do ceguinho que houve muito pior em sua escaramuça doméstica e segundo as suas contas aquele tinha perdido o jogo por 5x1, ou seja perdera para a mulher, para o hóspede duas vezes que usou impropérios e cacetada, para o Ceguinho e, finalmente para a Polícia. Repensando as ideias chegou na tese insofismável que precisava urgentemente de emagrecer e imaginou que deveria de refazer estas contas, para apurar os verdadeiros prejuízos e lucros, já que ficar sem o café da manhã poderia ser sopesado como lucro e não como perda. Só que este pensamento complexo ficaria para mais tarde. Logo se lembrou da expressão que corria no seu cérebro como uma ladainha que adotara: infeliz no amor, sorte no jogo. Nas sua matemática estava infeliz no amor, isto poderia ser indício de que poderia ter muita sorte na jogatina.


                                                              Sorveu aquela-que-matou-o-guarda com ardor e resoluto se dirigiu firme para a máquina disposto a jogar. Descia a alavanca e nada, novamente e nada. Sem entregar nenhuma moedinha de volta a máquina sorveu todo o dinheiro do militar que ao se ver sem nada, nem o da água-de-briga, rosnou altissonante:

...tinha coragem de mamar em onça e bater na cara dos filhotes...
                                                               

                                                               -Assim não vale, fui roubado no cerrado. Esta máquina está com defeito, ela foi programada pra roubar. E o seu sangue voltou a ficar complicado, subiu para a cabeça, turvou os neurônios e deixou os seus olhos injetados de fúria e, sacolejava a barriga com os nervos em fogo. Ao ver um facão no balcão resolveu apossar-se dele e atacar a gaveta da ladra. Zé do Bar ficou estupefato, a não acreditar no que via, e, sentindo perigo sanguíneo no horizonte, ficou imóvel. O certo é que o cidadão tinha coragem de mamar em onça e bater na cara dos filhotes. A máquina resistiu como pode, mas afinal perdeu para o facão e o nosso homem avançou no dinheiro e saiu do bar atônito e, logo depois, não acreditava na burrice que tinha feito. Depois desta demonstração de testosterona, descontrolado, já imaginando as consequências nefastas, se julgando em outro prejuízo, descambou para o alto do Santana, iria tomar um refocilante banho de cachoeira, lá na Cachoeira das Andorinhas.

                                                                     Na subida do morro, ja na estrada de terra caiu e bateu feio com a testa no chão e exclamou:

                                                                      - Arre, praga da patroa! só pode ser praga da patroa Dindinha!

                                                                       O que o nosso personagem não percebeu é que ao cair perdeu o dinheiro quando ajeitava o corpo e a roupa do tombo.


...dinheiro nunca aceitou desaforos...
                                                                        Boca de Asfalto. Lá no alto do morro passou pelo Boca de Asfalto que vinha montando morro abaixo uma mula vistosa chamada pelo nome de Londrina. Mal cumprimentou o seu amigo e seguiu caminho. Pouco tempo depois Boca de Asfalto que ia em missão de sorte até a Rua 15 jogar na loteria, encontrou todo o dinheiro perdido. Os seus olhos brilharam e prometeu apostar o que tinha na algibeira e mais o achado na sorte. Explico que o cidadão tinha sonhado a noite inteira que tinha ganhado na loteria. Logo, inferiu que o perdedor do dinheiro poderia ser o Pé de Bota que já estava mergulhado nos chás-de-cana e andava transtornado. Disse para si que não o devolveria, afinal das contas o cidadão era um animal e dinheiro nunca aceitou desaforos, e resumiu que o dinheiro estaria em melhor companhia consigo. Isto acertado entre a tese da devolução e a antítese da apropriação, tomou caminho sem nenhuma crise de consciência.



...nada de relaxações...
                                                                        Pé de Bota permaneceu na cachoeira por um bom tempo frigorificando a sua cachimônia e tentando pensar no ocorrido com metodologia. Não conseguiu coordenar bem os pensamentos, mas concluiu que a sua vida não andava bem e prometeu a si mesmo se saísse bem da estória que tinha adentrado seria outro homem, não frequentaria mais bares. Voltaria a frequentar a Igreja Assembléia de Deus com a sua Dindinha, algo que sempre fizera outrora com muito pouco entusiasmo. Era isso mesmo, pensava enlevado, o caminho é ser evangélico, com a bíblia debaixo do braço, nada de jogos e café-branco, tudo com o reforço dos exercícios físicos e moderação na comida. O seu lema agora era: nada de relaxações! O problema era o cão. Dindinha adorava aquele cão amarelo e de pequeno porte, chegava a pegá-lo no colo, tratava-o como se fosse o seu bebê. Tinha recolhido o bicho, em petição de miséria, fuçando o lixo da rua quando era recém nascido, quando se viram foi amor à primeira vista. Daí o nome Carente, em um momento de muitas emoções.


                                                                     Uma fome terrível tomou conta de seu estômogo e tomou a decisão de ir correndo da cachoeira até a sua casa lá no Bacalhau, com o porém de evitar a Rua das Pedra. O exercício faria parte do novo homem que renascia do caça-níquel e outros dissabores, além de ajudar no seu emagrecimento, pensou. E assim, seguiu caminho. Foi um esforço brutal, o fôlego ficou curto alguns minutos depois. Diminuiu o ritmo, respirava com muita dificuldade e aos trancos e barrancos, sacolejando a pança, encarou o morro acima perto do Bacalhau já com as pernas pesando toneladas. Inaugurando a sua nova filosofia religiosa falava de si para si: sangue de Jesus tem força, só falta mais um pouco! sangue de Jesus tem força! nada de relaxações! 
                                                                    

                                                                       Ao chegar próximo à sua casa sentiu um cheiro delicioso de sopa, que logo identificou como a sopa da Dindinha, guloseima que apreciava e muito. Bateu à porta com bastante humildade, preparado pra virar comida de onça, e a patroa ao abrí-la e ver a sua testa com um galo graúdo desatou a rir e como ria, riu como nunca tinha rido antes e disse abrindo caminho:

                                                                      - Passa já pra dentro. Tratando o homem como se fosse seu cachorro. Este com o rabo no meio das pernas abaixou a cabeça e entrou. Trocou a roupa e sentou-se à mesa onde esperou a sopa que foi servida por sua esposa. E como comeram sopa neste dia, tudo regado com muito queijo parmesão. Neste momento o nosso protagonista já tinha esquecido a nova vida que prometera levar, mormente quanto a moderação na comida. Depois de se fartar sentiu uma dor na coxa esquerda e arrastando a perna foi dormir, ajeitou a perna contundida e tomado pelo cansaço chegou ao sono R.E.M. roncando pela tarde toda.



                                                                          Banho de pólvora com a Iraça Preta. Ao acordar o nosso herói levantou da cama com muita dificuldade, a dor na perna aumentara e muito. Sopesou que deveria de tomar atitudes urgentes, urgentíssimas, contra a urucubaca que lhe perseguia, ou melhor deveria de procurar auxílio místico com a sua velha conselheira Iraça Petra, uma Senhora muito respeitada pelos seus poderes de melhora na vida das pessoas, apesar de fazer badernas na cidade em razão de seus porres e de sua valentia. O nosso indíviduo inclusive certa feita foi prendê-la por valentias e ela boquejou pragas na viatura policial e elas pegaram no veículo como rabo. Logo na primeira esquina a viatura policial bateu em outro carro, o nosso homem ficou estupefato e desde então passou a prestar mais atenção na Iraça Preta e acabou ganhando o seu primeiro banho de pólvora gratuitamente. Por conseguinte, não se libertou mais desta mania, já estava até gostando às deveras da fumaça. A moça era imensa, pesava bem mais de cem quilos.  Isto deliberado saiu arrastando a perna em uma caminhada longa e penosa até o Chupa Osso.



                                                          A concorrente Dona Fátima, um terror, com nova técnica mística.



                                                           Ao chegar na casa de benzimentos encontrou Iraça Preta muito satisfeita, todo sorrisos. Neste momento do nosso relato é necessário esclarecermos um percalço que a nossa personagem sofrera nas últimas semanas e o  porquê dela estar euforicamente feliz com a desgraça alheia, mas tudo justificável. O fato é que a terrível concorrência aparecera no destino dela e os seus fregueses desapareceram repentinamente de sua casa, simplesmente, trocada por outra mulher que viera de fora prometendo mundos e fundos, uma verdadeira concorrência desleal. Como o novo é sempre melhor e o povo gosta de coisas diferentes, atraí o pessoal como mosca encantada pela luz, a chegada da concorrente ou de Dona Fátima foi um estrago para as finanças da nossa senhora que ficou depressiva e revoltada com a população em razão de achar que sendo da cidade, ter prestado serviços relevantes há décadas não poderia ser simplesmente desprezada repentinamente. Pensava, ainda, que o pessoal não podia abandonar o nacional pelo de fora.  A concorrente chegou aqui na cidade a plenos vapores, por primeiro distribuiu milhares de panfletos com o seguinte anúncio:



                                                              ATENÇÃO

                                       

                                ASTRÓLOGA E BENZEDEIRA DONA FATIMA
                                Consultas com cartas de tarô, búzios e defumações
                                      
                                               Trabalhos de mesa branca, faz e desfaz
                                                qualquer tipo de trabalhos espirituais

                                       A solução para qualquer tipo de problemas:
                                        pessoais, comerciais, espirituais, amor não
                                    correspondido, saúde, inveja, vícios, mal olhado.

                                        Não perca mais tempo, procure hoje mesmo!
                                                    Trabalhos sérios e com sigilo
                                         
                                            FAZ AMARRAÇÃO E SIMPATIAS

                                      
                                  Atende-se de Segunda à Sábado das 08:00 às 20:00 horas


                                                          No final do panfleto tinha o endereço e telefone. Se não bastasse o marketing agressivo por panfletos com meia dúzia de distribuidores, fez anúncio na rádio FM. Os primeiros clientes ganharam consulta, alguns com destaque na sociedade foram  recebidos até com um cafezinho. Afirmou que a cidade tinha um brilho espiritual em razão de ter sido erguida por escravos  e que estava vindo para ficar em definitivo.



                                                          O sucesso foi absoluto mormente em razão de Dona Fátima ter surgido com uma técnica inovadora nunca explorada por Iraça Preta, ou seja, a técnica de benzer dinheiro e joias, com promessas firmes de abrir caminho e trazer boa sorte. O benzimento do dinheiro servia para dobrá-lo entre outras coisas nos negócios amarrados que sempre não davam certos. Nos trabalhos o alvo também era afastar um espírito chamado de Tranca Ruas. Um Exu que gosta de ficar do lado de fora das portas das casas,  malicioso, amigo das zombarias, usuário de álcool, tranca a vida das pessoas que não agem  corretamente por qualquer motivo, no caso as pessoas ficam  como se estivessem em um atoleiro ou numa areia movediça, não saindo do lugar. Outra utilidade de abençoar o dinheiro era curar as pessoas. Explico, se uma pessoa tem sessenta e cinco anos, o consulente de classe média deveria providenciar a quantia de sessenta e cinco mil reais ou mil reais para cada ano de vida, se fosse da classe econômica o valor era abaixado para sem reais. Com as joias e o dinheiro a prestadora dos serviços místicos trabalhasse neles de um dia para o outro com a promessa do consulente de não revelar nada à família, aos amigos ou outras pessoas, sob pena da corrente ser quebrada e o encanto rodar por água abaixo. Cumpriu tudo no início com honestidade, explicou que quando nasceu a sua finada mãe que lhe ensinara o ofício lhe batizara com este nome em homenagem a à Nossa Senhora de Fátima. Esta explicação gerou conforto e admiração nos fregueses que passaram a ver nela a figura de uma pessoa abençoada que traria muitas graças a todos. Não bebia e não fazia escândalos, o que fez com que fosse comparada com Iraça que ficou em visível desvantagem. Outro procedimento que agradou e muito a população foi a leitura solene de uma oração impressa em um papel de boa qualidade em todos os trabalhos:



Muito grande, muito forte, Seu Tranca Ruas vem trazendo a sorte
Salihed, Mehi Mahar Selmi Laresh Lach Me Yê!
Saravá, Senhor Exu Guardião Tranca Ruas!
Saravá, Ogum Sete Lanças da Lei e da Vida!
Saravá Pai Ogum!
Saravá Mãe Iemanjá!
Saravá, Regente Oxalá!
Saravá, Umbanda!


                                                                     E, assim, Dona Fátima foi angariando simpatias e fama, até que em um belo dia, na parte da manhã, o pessoal descobriu que a cidadã tinha anoitecido com uma quantia respeitável em dinheiro e joias e não tinha amanhecido. Bateu o desespero com animus necandi.  Apenas uma das vitimas tinha colocado a quantia de sessenta e seis mil reais, idade de sua esposa,  e as suas joias com a promessa de curará-la de doença grave. Fátima convenceu o freguês que a mulher acamada tinha recebido trabalho negro de uma ex-empregada que tinha sido demitida em razão de desentendimentos. E como a nossa prestadora de serviços, sem que ninguém tivesse contado o caso tinha acertado no desentendimento a desconfiança preliminar foi rompida como por um passe de mágica.   A notícia espalhou talqualmente fogo de morro acima, foi um Deus-acuda. Logo a nossa titular das artes místicas ficou sabendo e se refestelou como nunca com o malsucedido, não que desejasse o mal alheio mas com o desaparecimento da concorrente desleal e não confiável e o provável  restabelecimento das coisas.

           
                                                                          O nosso cidadão, foi o primeiro cliente que apareceu após o desparecimento sem notícias, até o momento, de Fátima. Por isso, a alegria de Iraça e o tratamento especial dispensado. Foi agarrado pelo braço já na soleira da porta e de supetão, encabulado com o tratamento vip, pediu de pronto um restaurador banho de pólvora, o seu serviço preferido. Tal procedimento encantado consistia em fazer um meio-círculo de pólvora, colocar uma vela vermelha  no centro, outra na extremidade esquerda e a última na direita. Este rito visava formar uma trilogia em simpatia pacificadora do mal. Isto feito o indivíduo foi colocado no meio dele e depois de riscado o fósforo com todo o cuidado, uma pequena explosão aconteceu e uma fumaça subiu infestando e obnibulando todo o ambiente. Após a fumaça da pólvora subir pelo ambiente da sala da Sra. Iraça o cidadão se sentiu outro homem, renovado e livre de qualquer espírito maléfico, o seu corpo estava leve. Só faltava fazer as pazes com o seu compadre, já planejada em sua cabeça,  assim que recebesse o próximo salário e já pensava em tomar novamente aquele líquido doce, aquela cachaça do coração. 

                                                                         Zé do Bar, um empresário de respeito. O leitor deve imaginar que este pequeno empresário é muito tolo só que a sua vida merece équenas pinceladas nesta perdra digital.  Ao contrário, o cidadão tem iniciativas e regras inteligentes. Foi herdeiro aqui no buraco de uma boa gleba de terra de terras onde passou a criar um pequeno rebanho de gado Nelore, e, ao depois, de regularizar inventário e formal de partilha comprou um pequeno alambique de cobre o qual foi aboletado em um bom galpão, isto concluído plantou um canavial do lado. O terreno plano tal qual uma mesa facilitou tudo, a fartura da águua do lado facilitava o sua irragação. Aprendeu através de um manual que o segredo de uma boa cachaça estava em saber retirar a chamada cachaça do coração destilada conjuntamente com a cachaça da cabeça e cachaça do rabo. Uma ver obtida a cachaça do coração, líquido precioso, o segundo passo era armazená-la em tonéis de carvalho por alguns anos. Na sua eucaristia tinha uma regra, só bebia apenas uma dose por dia quando se sentia extremamente bem ou ramente e no máximo três doses quando produzia já que o seu corpo passava por verdadeiro trabalho escravo e o líquido lhe dava energias extras na dor quase insuportável desta lida. A sua cachaça era muito cara, o dobro das comuns e mesmo assim, levava prejuízo. E qual era o seu lucro? O primeiro é que se tratava de um homem muito trabalhador que tinha prazer em gastar energias ou  cortar a cana com podão, em transformá-la em caldo, fermentá-lo e depois de exatas 36 horas, passar um final de semana inteiro destilando o líquido que saía em um primeiro momento na forma de cachaça de cabeça, com muito material e muito forte, ao depois a sua preciosidade, a cachça do coração e por último destilava a cachaça do rabo também tóxica. Outro trabalho era colocá-la em barris de carvalho e garopa que lhe subtraíam até 15% do líquido anualmente. Esta química nunca cansou a sua mente e se sentia como um cientista, em segundo lugar ganhava indiretamente, uma vez que quem ia ao seu estabelecimento comprava outros produtos, em terceiro lugar sua boa fama espalhava pela região. Ao lado disso, se divertia a valer com as figuras que compareciuam no bar, ganhava o riso de graça que alimentava o seu espírito galhofo. Parte do produto era ofertado de graça aos que nunca tinham ido ali ou para um morador especial e, como era difícil explicar que pagava para trabalhar nesta arte, ninguém acreditava. A sua família torcia o nariz e ninguém estava disposto a trabalhar de graça nesta matemática difícil, eles queriam o lucro fácil ou que as pingas fossem todas misturadas, que o preço abaixassse e que toda bebida fosse vendida rapidamente. Cortar cana com o podão, sem queimá-la, com um olho atento nas cobras cascavéis que gostam de se aninhar no pé dela, algo impensável para os seus familiares. Tentava explicar que tal método em um primeiro momento trazia lucros e muita dor de cabeça para os clientes e em um segundo momento espantava o freguês em definitivo  levando o seu nome para o beleléu. Sabia de maneira sólida que as coisas funcionavam de maneira torta e não de maneira reta como a sua família imaginava  e os seus concorrentes. Qualidade acima de tudo, seu lema, já que a concorrência era feroz e maledicente. A sua cachaça do coração curtida pelo prazo mímino de três anos, a que geralmente vendia, ficava no zero a zero em termos de prejuízos e lucros. Assim, ia levando a vida e progredindo aos poucos, na chácara e no bar. Tanto é que comprou depois de alguns anos mais cinco alqueires e hoje é um homem que muitos chamam aqui de controlado outros gostam de dizer controladinho, ou, se não é rico, não é pobre, um cidadão que  não acredita em dívidas bancárias e muito menos em agiotas que rondam a cidade como urubús no bolso dos incautos. No cômodo do bar de sua propriedade, guarda em um compartimento nos fundos verdadeiros tesouros ou barris com mais de dez anos de envelhecimento, estes só para a diretoria. Quanto ao apelido, é uma mania do povo, se pudesse faria um retificação judicial do nome nos registros públicos, todos o tem e isso passou a ser um orgulho tanto é que colocou Zé do Bar e cachaça do coração em um luminoso de Neón como se ele fosse o único e verdadeiro Zé. Quanto ao do seu amigo Pé de Bota, virou também orgulho, ora essa, falavam, temos que ter uma marca e levar a vida no riso, rindo deles mesmos e dos outros. Outro acontecimento digno de nota que ocorreu aqui no buraco foi um tal Dr. que aqui veio passar alguns meses e sabendo desta mania local disse que eles não colocariam nenhum rabo nele e para isto tomou a seguinte resolução, evitaria sair do hotel. Mas como ficar muito tempo dentro de um hotel é estressante de quando em quando o tal do Dr. colocava a cabeça para fora para vislumbrar o tempo e as ocorrências suavizando a sua meta ousada de sair ileso dos apelidos. E não é que o homem saiu furioso com o apelido de Dr. Cuco pela mania de colocar a cabeça para fora como se fosse este passarinho do relógio. O riso no Bar do Zé foi farto e o caso virou uma lenda dos apelidos que se espalhou aos quatro ventos.  Daí em diante ninguém mais ousou repudiar os apelidos, era melhor dar uma de joazinho-sem-braço, quando eles surgiam, apelar provocando barracos, fazia com que ele pegasse como rabo.



                                                                         Recobrado do ataque à máquina ficu dizendo consigo mesmo, então é assim, compadre de dia, de noite na forquilha, deixa estar, quero indenização, inclusive moral e, resoluto  foi procurar o seu conhecido Dr. Gravatinha que tinha adquirido este apelido em razão de ficar perambulando pela ruas da cidade sem paletó, mas sempre com uma gravata fiel no pescoço. Depois de fazer a consulta e muitos cálculos sociológicos, ficou sabendo que as ciências jurídicas era uma disciplina nobre, orgulhosa e que não aceitava que ninguém alegasse a sua própria torpeza em benefício próprio, ou seja, se ele Zé estava em flagrante delito mantendo a máquina, como poderia demandar prejuízos sofridos em razão dela. E o pior, a regra era tão sólida, que não havia nenhuma maneira de burlá-la.
                                                        

                                                                     Assim, as coisa ficaram elas por elas.